terça-feira, 29 de janeiro de 2013

MULHERES E FANTASIA...


Andava eu à procura de um outro trabalho para publicar neste blogue, quando me deparei com esta ilustração, da qual já nem sequer me lembrava. Isto deve ter sido um trabalho feito segundo a inspiração do momento, em que juntei um universo algo fantasmagórico ao de uma mulher que poderia ser muito bem uma arqueóloga... ou talvez não. Seja como for, esta é uma ilustração feita ainda no século passado, à qual me limitei a dar agora apenas alguns retoques em computador, no sentido de ficar um pouco melhor na reprodução.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O PRIMEIRO ENCONTRO DE GUIDO NOLITTA COM MR. NO - PARTE 2


Concluo hoje a apresentação do conto de Jorge Magalhães que foi ilustrado por mim, elaborado para comemorar o primeiro aniversário da morte de Sergio Bonneli a.k.a. Guido Nolitta, cuja primeira publicação teve lugar no Tex Willer Blog.


III

O LUAR DO PAJÉ


     Um frémito atravessou a clareira, como se criaturas invisíveis e desconhecidas, ocultas entre as árvores, se agitassem na excitação da vitória a que acabavam de assistir. Guido Nolitta saiu do seu torpor e observou o homem ainda debruçado sobre o corpo do jaguar, que jazia inerte como um fruto maduro caído das árvores.
     Era uma curiosa personagem que nunca lhe passaria pela cabeça encontrar na selva amazónica, embora tivesse feições tisnadas pelo sol dos trópicos, que reflectiam, à meia luz das fogueiras, um ânimo valente e decidido. Envergava um traje citadino, em que eram visíveis os danos da breve luta, e um blusão escuro com uma curiosa insígnia (uma espécie de trevo de quatro folhas) na manga direita. Tinha cabelos curtos, grisalhos nas têmporas (apesar de parecer ainda jovem), olhos vivos e penetrantes, com um brilho azul de safiras, inspirando simpatia, à primeira vista, como os heróis que Guido conhecera nos livros e nos fumetti escritos pelo seu pai. 
     Envolto numa réstia de luar, parecia quase uma figura fantástica, dessas que amamos na infância e nos acompanham por toda a vida, estimulando as nossas quimeras e os nossos sonhos, a parte mais poética e heróica que albergamos num recanto especial da nossa alma.
     Esta impressão foi tão forte que Nolitta não pôde reprimir a exclamação, embora incrédula, que lhe assomou instintivamente aos lábios.
     – Tarzan! Lorde… Lorde Greystoke?!…
     Uma voz metálica e fria, estranhamente calma, desfez-lhe as dúvidas:
     – Não! Chamo-me Jerry Drake… mas pode tratar-me por Mister No! Vivo aqui, na Amazónia, e também sou amigo dos Caiapós. Quanto ao resto, se quer saber, não tenho títulos nobiliárquicos e só mato animais selvagens em último recurso!
     Guido sentia-se cada vez mais perplexo. Quem seria, na realidade, aquele homem que preferia usar um nome enigmático… apesar de se ter apresentado como um cidadão comum, talvez americano como Kerry Drake? Um homem com uma força tão espantosa como a de Tarzan… embora não andasse nu como o pretenso rei da selva!
     – Eu… eu estou-lhe imensamente grato! – balbuciou, em voz trémula, estendendo a mão ao seu salvador. – Sou italiano e chamo-me Guido Nolitta… viajante e escritor por vocação. Também me dedico às histórias para rapazes. É uma herança de família!
     O outro correspondeu ao cumprimento, com um sorriso levemente irónico no rosto esbatido pelo frouxo clarão das fogueiras.
     – Não precisa de me agradecer. Calhou eu estar aqui perto, quando a onça se preparava para atacá-lo. Mas recomendo-lhe que tenha mais cuidado! Nestas regiões, a noite e a solidão são más conselheiras… Pior ainda se os nossos sentidos tiverem adormecido depois de uma boa libação de cachaça. E a do cacique… melhor dizendo… pajé Ubirajara… é demasiado forte!
     Fez uma pausa e acrescentou, com um trejeito ainda mais irónico:
     – Essa música que o ouvi trautear há pouco é uma das minhas favoritas… mas deve ter sido ela que atraiu a onça!
     Guido Nolitta continuava a sentir um vago aturdimento. Noite, solidão, cacique, pajé… qual seria o significado profundo destas palavras na boca do desconhecido? E que andaria ele a fazer, de noite, junto da aldeia dos Caiapós? Sem armas, totalmente indefeso… Teria olhos de felino para poder devassar a escuridão da selva? E em que fibras do seu ser a coragem e a ironia se entrosariam com a prudência e o bom-senso? Ou seria um louco temerário e impulsivo que não temia o perigo, apesar dos conselhos que dava aos outros? Talvez não passasse de um rebelde, um marginal de espírito solitário que procurava afastar-se do mundo civilizado. Eram questões que intrigavam Guido Nolitta, mas para as quais não esperava encontrar respostas.
     – Então escreve histórias? – perguntou o homem que se intitulava Mister No. – Tenho um bom mote para um livro: na Amazónia diz-se que a terra não tem dono, mulher não tem honra, homem não tem palavra e árvore não tem raiz! É por isso que eu prefiro a companhia dos índios!
     – Eu também gosto deles. Sempre que posso venho à Amazónia para os ver. O Brasil tornou-se a minha segunda pátria! – exclamou Guido Nolitta, que sentia a boca seca e os membros entorpecidos, sem saber se era ainda efeito da cachaça ou da extraordinária cena que se desenrolara diante dos seus olhos.
     Mister No empunhava agora, na mão esquerda, uma catana com a lâmina suja de sangue. Teria sido com essa arma que matara a onça e não com as mãos nuas, à laia de um herói de romance? Guido começava a duvidar do que presenciara momentos antes, como se sofresse de alucinações. Olhou para o cadáver do felino, mas a luz das fogueiras era muito ténue e não viu manchas de sangue.
     Um súbito negrume abateu-se sobre a clareira, quando a lua desapareceu entre um feixe de nuvens, tornando a cena ainda mais insólita. O luar e a sombra, a misteriosa dualidade dospajés (dos xamãs), pensou Nolitta, lembrando-se do nome que Mister No dera ao cacique, que a essa hora dormia numa cabana, talvez assaltado pelos mesmos sonhos que rodopiavam na sua mente, como uma girândola fantástica.
      O outro continuava a apertar-lhe a mão, sacudindo-a vigorosamente como se quisesse arrancá-lo ao seu torpor. Foi então, ao contacto daqueles dedos fortes, tão reais no seu sonho como as garras do jaguar, debatendo-se no estertor da morte, que Guido Nolitta, o viajante italiano apaixonado pela Amazónia, regressou ao seu estado consciente e às margens do rio Xingu, a esse mundo primitivo que despertava lentamente nos braços da aurora.
     Olhou em volta e, como já esperava, não viu ninguém. Mister No e o corpo rígido da onça tinham desaparecido. Só as fogueiras ainda ali estavam, escuras e frias, sem a crepitação e o calor das brasas. Mais longe, nas cabanas dos índios, continuava a reinar o silêncio. A lua alvejava no céu, sobre a Natureza adormecida e calma.
     Dois dias depois, o hidroavião de asas amarelas levantou voo, descrevendo uma larga curva sobre a aldeia – onde os Caiapós, sobretudo os filhos e as filhas de Ubirajara, o saudavam com gritos estridentes –, antes de sobrevoar, aos ziguezagues, a fita prateada do afluente do poderoso Amazonas.
     O piloto olhava em frente, através dos vidros da carlinga, onde o clarão ofuscante do sol se reflectia como num espelho, iluminando-lhe o sorriso estampado no rosto, sob os óculos e o gorro de aviador. Voar era um dos seus maiores prazeres!
     Mal sabia Guido Nolitta que voltaria a encontrar-se muitas vezes com Mister No… a personagem dos seus sonhos descoberta em plena selva, graças à cachaça (ou à magia?) de um xamã, numa noite da Amazónia!



Nota: A frase “Na Amazónia, a terra não tem dono, mulher não tem honra, homem não tem palavra e árvore não tem raiz”, foi extraída de um artigo sobre o jornalista e defensor do ambiente Felipe Milanez.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O PRIMEIRO ENCONTRO DE GUIDO NOLITTA COM MR. NO - PARTE I

Um conto de Jorge Magalhães, ilustrado por mim...
 Eu e o Jorge Magalhães já trabalhámos juntos por diversas vezes. O nosso primeiro projeto foi Missão Quase Impossível, uma história de banda desenhada de sete páginas, que faz parte integrante do álbum Vasco Granja, Uma Vida... Mil Imagens. Depois, voltámos a unir forças em Ok Corral, um curta de quatro páginas, feita para o Moura BD, onde o meu pseudónimo Jhion teve a sua estreia. No ano passado, participámos numa homenagem feita pelo Tex Willer Blog a Sergio Bonelli, o editor de várias revistas, entre as quais o famoso Tex Willer, no primeiro aniversário da sua morte. O Jorge, inicialmente pretendia que fizéssemos mais uma BD, mas como eu estava sem muito tempo livre, acabámos por optar por esta versão: um conto com várias ilustrações, do qual hoje publico a primeira parte. Para quem não está por dentro do percurso de Sergio Bonneli, fica a nota de que Guido Nolitta era o seu pseudónimo, quando trabalhava como argumentista. E foi, sob esse nome, que criou aquela que se viria a tornar numa das suas mais emblemáticas personagens: precisamente Mr. No, um herói que refletia o amor que Bonnelli sentia pelo Brasil, nomeadamente pela enorme vastidão amazónica. Fica então a primeira parte do conto:



I

AMAZÓNIA MEU AMOR



     O motor do pequeno hidroavião ronronava suavemente, enquanto o seu tripulante manobrava os comandos para descer sobre as margens arborizadas do rio, cuja curva já se avistava a algumas centenas de metros.
     Um sorriso de satisfação franziu os lábios do piloto. Com uma volta rápida, o aparelho sobrevoou a aldeia dos Caiapós, saudado pelas exclamações alegres de alguns índios, que correram para a margem, ansiosos por ver o veloz pássaro pintado de verde e amarelo pousar nas águas do rio.
     Guido Nolitta endireitou o nariz do hidro e preparou-se para a amaragem, deitando um olhar distraído ao painel de instrumentos, onde algumas agulhas que indicavam a altitude e a velocidade do aparelho giravam como o ponteiro de uma bússola a cada oscilação da carlinga.



     O audaz aventureiro de origem italiana, com perto de 40 anos, sentia-se feliz sempre que sobrevoava aquela região da Amazónia, ao encontro dos seus velhos amigos Caiapós, em cujas aldeias era recebido festivamente, sobretudo pelo chefe Ubirajara e pelos seus filhos, um bando numeroso e chilreante de garotos que o seguiam por toda a parte, mal punha o pé em terra, à espera das guloseimas e dos presentes que ele lhes trazia no seu pássaro metálico. 
     Guido era um profundo conhecedor daquelas paragens e dos costumes dos seus habitantes. Dizia sempre, a todos os seus amigos, que no Amazonas também se sentia um índio. Adorava os rios coleantes como enormes serpentes e as majestosas florestas que os abraçavam num enlace lânguido que se tornava um festival de luz e cor nas manhãs em que cantavam os colibris e nos poentes dourados em que se ouvia o rugido do jaguar. Sim, Guido Nolitta era um homem feliz quando estava junto dos seus amigos indígenas, que o festejavam como um hóspede de honra. 
     Todos sorriam de contentamento ao vê-lo, até as moças mais jovens e bonitas, que não se importariam de lhe fazer companhia, estendidas na sua rede, com o luar a banhar-lhes os corpos quase nus, nas noites em que o Cruzeiro do Sul empalidecia o brilho das outras estrelas. Talvez um dia o Caramuru (o branco generoso e gentil) escolhesse uma delas, não para casar mas para lhe ciciar ao ouvido palavras tão excitantes como o ronronar dos motores e da hélice (era assim que ele lhes chamava) da sua casa flutuante. 
     Nessa noite, alva e cálida como a lua, despida das brumas que costumavam pairar sobre o rio, as fogueiras brilharam na grande clareira onde se erguia a aldeia dos Caiapós e os ruídos da festa que Ubirajara oferecera ao seu hóspede ecoaram entre as árvores perfiladas, como vultos de espectadores, a alguns metros das choupanas. 

     – Sangue de Judas! A tua cachaça é a melhor do mundo, chefe! – exclamou Guido Nolitta, sorvendo mais um gole daquele líquido que lhe queimava a garganta e lhe fazia zumbidos no cérebro, como se um motor silencioso tivesse repentinamente despertado, acelerando continuamente o seu ritmo. 



     Guido gostava de beber em companhia do cacique Ubirajara, que conhecia há muitos anos, mas nunca – nem mesmo num bar de Manaus – perdia o controlo dos seus gestos e das suas emoções, tal como quando, a bordo do hidro, nas longas horas de voo solitário, bebia alguns tragos de um velho uísque para resistir às correntes frias, enquanto vagueava o olhar pela imensidão do Amazonas, aturdido pela beleza da paisagem e pela canção dos motores.






     Noite alta, já o som dos batuques e das danças se extinguira e a maioria dos Caiapós dormitava junto das fogueiras que ardiam à beira do rio, lançando clarões sobre as águas adormecidas e o pequeno avião amarado junto da margem, quando uma flecha de fogo riscou o céu constelado de estrelas. Ubirajara observou-a com um olhar mortiço e levantou-se, espreguiçando os membros.

     – Está na hora de recolher à minha cabana – disse o cacique, como se o fugaz cometa fosse um sinal. – Antes que o ardor da cachaça comece a subir pelo meu peito e a enfraquecer a minha língua. Tu sabes, ó meu amigo descido dos céus, que tenho poucas palavras quando sinto a cabeça tão vacilante como as luzes das fogueiras ao amanhecer.
     Guido sorriu.
     – Não és o único, chefe. Boa noite!



     Atrás de Ubirajara, num cortejo silencioso e lento, homens, mulheres e crianças arrastaram os passos até às cabanas envoltas na profunda escuridão da noite. Não tardou que no terreiro se ouvisse apenas o estalar dos ramos consumidos pelas chamas, que diminuíam de intensidade, espalhando um fumo branco e pouco espesso sobre as esteiras e as cabaças vazias, dispersas no chão onde pouco antes os pés se enroscavam, lambidos pelo suave calor do fogo.

     Guido Nolitta sentiu o silêncio descer sobre ele e apeteceu-lhe entoar em surdina uma velha canção de Nova Orleães, “Oh! When the saints go marchin’ in”, ritmando-a com um ligeiro assobio, enquanto recordava uma bela caipira que tinha amado ao som dessa música, num quarto do Hotel Amazonas, em Manaus. Depois, saboreou um último gole de cachaça e fitou melancolicamente o vago resplendor das fogueiras até sentir os olhos a piscar, transformando as sombras em pequenos pontos luminosos que dançavam como faúlhas na noite escura.
     Mas não se deixara vencer pelo sono, dormitava apenas, mergulhado numa espécie de letargia que lhe povoava o cérebro com estranhas e recônditas sensações. Era o efeito da cachaça, pensou ainda, antes de cerrar mais as pálpebras, deixando o corpo distender-se, leve como as asas do avião quando o frémito do vento as embalava.




II

PERIGO!




     Tão absorto estava nos pensamentos nostálgicos que o invadiam, trazendo-lhe imagens de outros encontros, outros amores e outros lugares, como se sonhasse, que aos seus ouvidos não chegou um leve rugido que fez agitar e estremecer a vegetação da selva, em redor da clareira. Um rugido tão abafado que só os macacos e os pássaros o ouviram, fugindo dos ramos e dos ninhos onde se preparavam também para dormir.
     Mas o rugido não se repetiu. Em vez disso, na orla do matagal imerso em trevas, cintilou o clarão furtivo de dois olhos raiados de ouro e sangue que espreitavam a presa. Os olhos magníficos e ferozes de uma onça pintada!
     Em silêncio, o corpo ágil, cujas manchas se confundiam com a folhagem, moveu-se entre os troncos, olhando fixamente o vulto do homem que parecia adormecido e a luz bruxuleante das fogueiras, onde crepitavam as últimas brasas. Então, esquecendo o temor e a prudência gravados no seu instinto primitivo, deu alguns passos fora do abrigo da floresta, dirigindo-se para o homem imóvel no centro da clareira.
     Guido continuava a sonhar meio acordado, sentindo a mente povoada por uma névoa estranha que devia ser, em parte, efeito da cachaça. Não era a primeira vez que isso lhe acontecia, mas geralmente por culpa da sua própria imaginação delirante, que não parava de sonhar com coisas que só existiam no seu espírito. Cenas e figuras sem nome e sem sentido, que depressa se esfumavam quando a realidade vencia a fantasia.
     A onça estava cada vez mais próxima da sua presa, mas Guido não se mexia, totalmente inconsciente do perigo, envolto numa nuvem de sonhos e de pensamentos etéreos como os vapores da cachaça. Sonhava com uma viagem que fizera muitas vezes e com alguém que ainda não conhecia… esse, sim, com um nome e uma existência reais. Ou estaria confundido? Talvez o nome fosse real, a identidade é que não…
     As profundezas da selva amazónica, mesmo à beira dos terreiros das aldeias ribeirinhas, podem esconder muitas ameaças e muitos perigos. Especialmente de noite, quando as fogueiras se apagam e vultos mosqueados, que rosnam surdamente, espiam as cabanas adormecidas. Guido Nolitta sabia tudo isso… mas estava embriagado de sonhos, sob o clarão do luar reflectido nos tectos de colmo e no espelho límpido das águas do rio.
     Se tivesse aberto os olhos, nesse momento, teria sentido um arrepio percorrer-lhe a espinha, porque a onça se agachara a alguns metros dele, fitando-o com um olhar que coruscava no pequeno círculo de luz derramado pelas fogueiras, de garras abertas e movendo a língua entre os dentes, que pareciam punhais afiados prontos a dilacerar o corpo da sua vítima.
     Foi então que algo inesperado aconteceu… algo que não estava escrito no grande livro da selva, onde os caçadores e as presas desempenham papéis determinados pelas leis da Natureza, cujo desfecho é fatídico para os mais indefesos quando certas regras de sobrevivência são esquecidas.









     Saindo também da espessura, um vulto humano, de aparência muito diferente da que tinham os índios, atravessou a clareira com a velocidade de um relâmpago e saltou agilmente sobre a onça, paralisando-a com um poderoso garrote dos braços musculosos, no momento em que o feroz carnívoro ia desferir o bote. Não parecia sequer um combate, mas o último acto de uma cena que se desenrolava sem testemunhas, na solidão e no silêncio nocturnos da selva amazónica.
     O rosnido raivoso e arquejante do felino, que não conseguia libertar-se das mãos enclavinhadas no seu pescoço e das pernas, tão robustas como os braços, que subjugavam o seu torso, impedindo-lhe os movimentos e roubando-lhe o fôlego, despertou finalmente Guido Nolitta, cujo olhar fitou, atónito, aquela cena que parecia saída de um livro de aventuras que lera há muito tempo.
     Num último sobressalto de agonia, a onça tentou ainda libertar-se, sacudir o adversário que lhe apertava a garganta com mãos que pareciam tenazes de ferro, mas esse ímpeto durou pouco. Tal como nos livros de que Guido Nolitta se recordava, o vencedor só podia ser o mais forte, o mais ágil, o mais destemido. E o mais forte era o homem!
     Com um estalido de vértebras partidas, a cabeça do grande felino pendeu de lado, nas mãos do atacante, mostrando a língua, como um farrapo vermelho, entre os dentes que não voltariam a morder, e o seu corpo mosqueado, de selvática e majestosa beleza, pareceu encolher-se, na rigidez da morte.



CONTINUA...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

ENTROPIAZINE

   É com muita satisfação que divulgo aqui um projeto que considero ter pernas para andar e que reúne artistas das mais diversas áreas. Para já fica aqui disponível o formato da revista digital e para melhor se perceber o que é isto, deixo a seguir o texto de apresentação elaborado pelo próprio Grupo Entropia


Entropia Ezine 1 Edição: Grupo Entropia - 2013.
Design e Montagem: Sara Mena.
Capa: Catarina Guerreiro.
Autores: Adelina Menaia, Álvaro, Ana Vidazinha, Andreia Rechena, Bruno Martins, Carla Rodrigues, Carlos Rocha, Catarina Guerreiro, Denise Didelet, Geraldes Lino, João Amaral, João Figueiredo, João Raz, Lemon BD, Manuel Alves, Miguel Ferreira, Nuno Amado, Paulo Marques, Pedro Manaças, ROD e Sara Mena.


    É com muito orgulho e alegria que aqui vos apresentamos o EntropiaEZINE, um novo projecto do Grupo Entropia, que apostará fortemente na divulgação do Autor português e dos seus trabalhos, nas áreas da Banda Desenhada, Ilustração, Fotografia e Literatura. Iremos pois utilizar a Internet como meio de eleição, para a distribuição e partilha gratuita desta publicação digital, aproveitando todas as suas potencialidades para partilharmos um pouco do que de bom é feito em Portugal, a uma escala global, de uma forma muito fácil e directa. 
   Poderão encontrar, acedendo ao nosso site www.grupoentropia.netsecção Publicações/EntropiaEzine, a oferta de vários elementos, que vão desde belos wallpapers alusivos ao EntropiaEZINE, passando pela possibilidade de fazerem o download gratuito da publicação, ou de realizarem a sua leitura online. Claro está que não se sintam inibidos em partilharem o ezine, com os vossos contactos, de o divulgarem nos vossos facebooks, twitters, blogues ou sites. O artista e as artes em Portugal agradecem toda a ajuda que nos possam dar na sua divulgação e contamos com todos vocês para nos ajudarem a levar esta publicação digital de Autores portugueses, ao maior número de lares possível!
    Acrescentamos ainda que este projecto, que marca uma boa entrada do Grupo Entropia em 2013, irá contar com edições regulares, ao longo deste ano, sendo que as futuras edições estarão abertas a todos os autores portugueses, que nela queiram participar e que nos façam a submissão dos seus trabalhos, mediante um regulamento de participação que iremos disponibilizar em breve e de posterior aprovação dos respectivos trabalhos, pela equipa responsável pelo EntropiaEZINE.
   Em Fevereiro, iremos também lançar a versão traduzida para o inglês do EntropiaEZINE, o que possibilitará tornar mais acessível a publicação, também nos países que não dominem a língua portuguesa, elevando assim a sua divulgação a uma escala planetária.

Para quem quiser fazer o download em PDF fica aqui o link.